John Dolmayan: ‘Vamos fazer o melhor álbum de todos!’

A jornalista Beril Eski, da BBC Türkçe, realizou uma entrevista com John Dolmayan durante a turnê ‘Wake Up The Souls’. Diversos assuntos foram abordados. Confira a entrevista na íntegra:

BBC Turquia | Ana Sayfa

“A excursão do grupo começou nos EUA em 06 de abril, seguirá pela Alemanha, França, Bélgica, Holanda e Rússia, em seguida, chegará na Armênia em 23 de abril.

Dolmayan falou sobre um novo álbum, centenário do genocídio, histórias familiares, política na Turquia, a admiração por Sadri [ator turco] e muito mais.”

Queríamos ir para a Turquia, mas não foram capazes de retornar

BBC: Como surgiu a ideia da turnê ‘Wake Up The Souls’? Como vocês decidiram nomeá-la?
JD: Foi o que fizemos há anos em Los Angeles, o nome da turnê era ‘Souls shows’ vem de (‘Concerto das Almas’). A ideia da turnê foi algo que nós conversamos há mais de um ano e meio. Originalmente começou com um concerto na Armênia e a ideia cresceu.

BBC: Vocês já pensaram sobre a ida para a Turquia, como parte da turnê?
JD: Nós iríamos chegar à Turquia como parte da turnê, tivemos contato com as autoridades turcas, mas não recebemos uma resposta. É por isso que a turnê não chegou por lá. Serj Tankian sabe de outros detalhes.

BBC: Em 1998, vocês iriam abrir um show para a banda ‘Slayer’, mas não foram, o que aconteceu?
JD: Nós estávamos indo para a Turquia, porém, nos aconselharam a não ir por causa da segurança.

BBC: Vocês tiveram contato com as autoridades turcas naquela época?
JD: Não, nós não tivemos. Nosso empresário estava preocupado. Particularmente, eu não estava muito preocupado porque eu conheço os turcos há muito tempo e não tenho medo deles.

BBC: Vocês tem planos futuros para tocar na Turquia?
JD: Nós adoraríamos tocar na Turquia. Nossos fãs turcos vão nos ver nos lugares que tocamos. Tenho certeza que um monte de fãs turcos, vão nos ver em concertos na Alemanha.

Vamos fazer o melhor álbum de todos

BBC: Você acha que sai um novo registro em estúdio?
JD: Há algum tempo nós estamos sendo pressionados para fazer o novo álbum (risos). Nós vamos para casa depois da turnê, vamos descansar um pouco e então vamos olhar para tudo que podemos fazer juntos.

BBC: O novo álbum vai ser como?
JD: Se conversarmos muito sobre um novo álbum, eles podem ficar com raiva de mim no grupo. Mas vou falar um pouco, porque eu gosto de irritá-los. Tudo o que fizermos, se não for algo específico para o SOAD e para esse álbum, nós não o teremos. Há muita pressão sobre nós, porque não fazemos um álbum em 10 anos. Portanto, se não for o melhor álbum até agora, não há um motivo para fazê-lo. Resumindo: Ou fazemos o nosso melhor álbum até agora, ou não vamos fazer nada.

BBC: Os membros do grupo vão continuar com os trabalhos solo?
JD: Nós todos apreciamos o trabalho solo. Eu estou preparando um álbum solo, um material com músicas covers. Por exemplo, terá uma canção da Madonna, ‘I’d Rather Be Your Lover’. Eu selecionei as músicas covers que eu queria. Pretendo lançar o álbum este ano. Mas é claro que a minha prioridade é o SOAD.

SOAD é o meu verdadeiro amor

BBC: Vocês fizeram uma pausa em 2006 e retornaram em 2010. Como é a sensação de voltar a ficar juntos?
JD: Muito melhor do que ficar separados. Se o verdadeiro amor está longe de você, tudo o que você quer é estar com ele novamente. SOAD é o meu verdadeiro amor. Agora estamos mais velhos e temos mais gordura (risos). Nós cuidamos um do outro. Eu me preocupo muito mais com os membros do SOAD do que com meus amigos mais próximos.

BBC: Como vocês se conheceram?
JD: Os outros três [Serj, Daron e Shavo] foram para a mesma escola, eu fui para uma escola particular, mas desisti, porque eu era muito desobediente. Eles disseram para a minha família: “Seu filho talvez não deve voltar para a escola no próximo ano.” Eu juro, eles disseram isso. Com 22 de idade eu conheci os outros membros do SOAD. Nós estávamos tocando em grupos diferentes. O ex-baixista começou a tocar no nosso grupo e nos conhecemos a partir disso. Ao longo do tempo, eu me tornei um membro.

BBC: Quais são seus músicos favoritos?
JD: A banda favorita é o ‘The Who’, porque eu admiro muito o baterista Keith Moon. Mas, claro, eu também amo, Beatles, Rush, Iron Maiden e Metallica. Não posso continuar contando, isso pode levar horas. Adoro música clássica. Atualmente minha banda favorita é o ‘Midlake’.

BBC: Qual é a sua música preferida hoje em dia?
JD: O Midlake tem uma música… um álbum… eu não me lembro o nome, mas eu escutei o álbum por quase um ano. Isso geralmente acontece quando eu estou trabalhando para um disco. Eu escutava todos os dias, por exemplo, quando eu era criança, eu ouvia todos os dias o álbum ‘The Wall’ do Pink Floyd, durante dois anos. Ele tem diversos sentimentos misturados.

Lonely Day não foi escrita para o Holocausto

BBC: Tem algum artista turco que você acompanha?
JD: Eu não sei se estou acompanhando. Provavelmente existem. Eu provavelmente escuto sem saber seus nomes. Quando eu era jovem, meus pais tocavam música, e na maior parte do tempo era a música Turca. Tenho uma ligação mais forte com a Turquia, acredite ou não.

Quero contar uma história. Na verdade, como diferentes ideias podem se juntar. Há vários anos eu estava em Nova York. Alugávamos um carro e um motorista diariamente. Claro, isso custou-me. Fui às compras com a minha namorada, a antiga (risos). E o nosso motorista era um turco. Conversamos durante todo o dia e eu estava em um lugar onde o assunto era sobre os armênios e turcos por lá. De repente percebemos que a questão entre nós era o genocídio. Nós tivemos que falar sobre isso de certa forma. E nós conversamos. Falei o que me foi ensinado a partir de todas as pessoas e notei a verdade entre ambos, independentemente de qual for. Este fato demonstrou que não temos diferenças no que somos.

A música ‘Lonely Day’ foi escrita para 1915?
JD: Eu não penso sobre o genocídio na música ‘Lonely Day’. Mas qualquer um pode construir essas interpretações. Letras solitárias, são feitas sobre um dia e só, eu interpreto as palavras positivas. Mas é claro, eu não escrevo as letras.

BBC: O que é dito nas palavras da canção ‘Holy Mountains’?
JD: Eu não escrevi a letra da música ‘Holy Mountains’. Eu não sei as palavras. Mas a música fala sobre as tradicionais montanhas armênias ‘Ararat’ e ‘Masis’.

Nós não permitimos o discurso do ódio

BBC: Antigamente vocês foram acusados de nacionalismo em concertos, a bandeira da Turquia foi queimada na entrada de seus shows, “turcos e cães não são permitidos” foi escrito em direção à entrada.
JD: Em primeiro lugar, se eu fosse uma testemunha deste movimento, imediatamente daríamos um fim nisso. Porque esse comportamento é muito desrespeitoso. Ninguém pode queimar uma bandeira. Um patriota turco, um patriota armênio, líbanes ou patriota americano. Em segundo lugar, a palavra ‘cão’ nunca poderá ser dita como um insulto. Nós não permitimos discursos de ódio, seja de qual modo for. Se você olhar para a minha página no Facebook, quando uma pessoa, independentemente da sua nacionalidade, orientação sexual ou qualquer outra coisa, é atacada, eu dou um fim nisso imediatamente.

BBC: Pela primeira vez vocês tocarão na Armênia, certo?
JD: Sim, e estamos nos sentindo muito bem. Eu queria fazer isso há muito tempo.

BBC: Existe um plano surpresa para o show na Armênia?
JD: Talvez será uma surpresa porque tocaremos por muito tempo. Vamos tocar no show por cerca de duas horas. Normalmente nós não tocamos tanto tempo. Ao final de duas horas, espero que eu esteja são e salvo, eu estou velho agora.

Nós estamos carregando o peso por muito tempo

BBC: No dia seguinte será 24 de abril. Você vai estar na Armênia naquele dia?
JD: Serj Tankian dia 24 e 25 vai estar lá para algumas atividades, eu vou apoiar-lo por lá.

BBC: Particularmente, o que esta turnê significa para você?
JD: Algo para estabelecer uma ponte entre a Turquia e a Armênia, como um armênio, isso é algo muito importante. Mas é muito difícil fazer isso sem reconhecer o genocídio armênio. Isto é um longo tempo para nós, nós carregamos um fardo pesado. Minha avó e avô carregavam este fardo, minha mãe e meu pai carregam, e agora eu estou carregando. Eu acho que a Turquia também carrega esse fardo de muitas maneiras. Eu acho que eles ficariam felizes se resolvessem esses problemas. Depois disso, eu acredito que nós podemos continuar unidos.

BBC: Os shows da turnê serão transmitidos ao vivo na internet ou não?
JD: Em 23 em abril (Armênia) estaremos tentando liberar o concerto ao vivo na internet. Mas tenho certeza que depois que os concertos acontecerem eles poderão ser vistos imediatamente por gravações que aparecem na internet. Todo mundo estará com seus telefones. Portanto, pode haver pequenos pedaços das músicas. Mas o show do dia 23 nós tentaremos publicar ao vivo na íntegra.

BBC: É verdade que você possui familiares em Kayseri?
JD: Eu acho que há uma parte da minha família lá. Mas eu não sei onde fica esse lugar. Você sabe?

…Sim, na Anatólia Central.

JD: Alguns familiares são de ‘Urfa’ [Şanlıurfa]. Onde é isso?

…Fica no sudeste.

JD: Eu acho que minha família está espalhada por essa área.

BBC: As histórias da Turquia foram faladas por familiares em casa?
JD: O meu avô viveu na Turquia com sua primeira esposa. Sua primeira esposa morreu de um ataque cardíaco, não no genocídio. Eu sei que havia uma vida feliz. Todos os vizinhos se davam bem, e eles viveram lado a lado. Pelo que eu entendo, quando você vive em uma vila religiosa as questões políticas não são tão importantes, não podem ser tão importantes. Você se concentra apenas em criar seus filhos e só. Se você está em uma aldeia de turcos, armênios, sírios, não importa o que seja, todos ajudam uns aos outros. Eu ouvi as histórias, a experiência foi assim. Mas depois houve o genocídio, existiram muitos detalhes negativos.

BBC: Será que a sua avó e seu avô falavam turco?
JD: Sim, eles sabiam muito bem. Tanto a minha avó quanto meu avô falavam muito bem o turco. Eu diria que minha mãe e meu pai não falam turco muito bem. Eu também sei algumas palavras turcas. Você provavelmente sabe de muitas palavras em turco que eu não sei. Minha falecida avó, ela era uma mulher maravilhosa, viveu no Canadá e veio me visitar em Los Angeles. Ela sempre assistia filmes turcos em Inglês. Ela gostava muito do Sadri Alışık Filmleri [ator turco]. Sadri Filmleri me lembra o Jerry Lewis. Embora eu não entenda muito de comédia, eu ria muito do turco Sadri. Era uma comédia em família, dávamos muitas risadas. Isso foi muito especial para mim, essas coisas que compartilhei com minha avó, são memórias especiais.

O assassinato de Hrant Dink era uma questão de humanidade

BBC: No documentário ‘Screamers’ você falou do Hrant Dink, você se encontrou com ele?
JD: Não, nós não tivemos essa oportunidade. O assassinato de Dink foi realmente triste, porque ele era um homem do bem. Depois do assassinato de Dink, milhares de pessoas foram às ruas na Turquia, “Somos todos armênios”, “Somos todos Hrant Dink” apareceram com slogans assim. O que você pode sentir depois dessas imagens?

JD: Não foram só os armênios em maioria, um grande número de turcos foram também. Injustiça, assassinatos. Eles estão errados, e eu acho que não era uma questão de um armênio ter sido assassinado por turcos, era só uma questão de humanidade. Infelizmente, um deles cometeu este crime terrível, eu não sei por que, eles pensam que são patrióticos, eu não sei. Às vezes as coisas terríveis podem ser feitas em nome do patriotismo. Espero que a justiça seja feita. Mas eu apoio e agradeço a todas as pessoas que foram para as ruas após a morte de Dink. Eu acho que esse suporte lançou um movimento.

Meu sonho é não falar sobre isto outra vez

BBC: Hrant Dink também teve uma atitude crítica em relação a população armênia. Em um artigo “A identidade armênia será insuficiente para descrever os valores do passado”, disse ele. Como você avalia este comentário?
JD: Você não quer viver no passado o tempo todo, você vai querer tirar uma lição dele. É claro que você vai querer que ele seja aceito. Você precisa de seu passado, para viver o presente e o futuro, você deve se contentar com a vida. Nós armênios, não queremos continuar falando sobre isso. Meu sonho é falar novamente sobre isso e então não precisar mais. Mas não só sobre os armênios. Existem muitas pessoas no mundo sendo massacradas. Mesmo hoje em dia, as pessoas podem sofrer um genocídio. Não fazem nada em relação a isso. No mundo, desde que o dinheiro se colocou na frente das pessoas, esses problemas vão continuar.

BBC: O que você gostaria de dizer aos seus fãs na Turquia?
JD: Agradeço muito a todos, eles nos ouvem, porque eles são fãs do nosso grupo. Se tiveram também uma mensagem para nós, seria ótimo. Não há problemas!

Nenhum comentário