Novos materiais do Scars on Broadway terão a identidade do System of a Down, diz Daron

Em entrevista concedida ao jornalista Steven Rosen, do portal Ultimate Guitar, Daron Malakian fala de sua carreira como compositor e guitarrista e também sobre o atual momento do System of a Down e Scars on Broadway. Confira a matéria na íntegra:


As músicas que você escreveu para o álbum Dictator poderiam ter sido gravadas pelo System?

Eu sempre digo às pessoas que há muitas músicas do System, especialmente do Mezmerize e Hypnotize, que poderiam facilmente ter sido músicas do Scars. Há músicas do Scars no primeiro álbum que poderiam ter sido músicas do System. Se o System estivesse fazendo um álbum, algumas dessas músicas poderiam estar nele.

Portanto, quando você se senta para escrever, nunca pensa: “Esta é uma música do Scars. Esta é uma música do System”?

Eu acho que meu estilo funciona com qualquer banda e você percebe isso. Há coisas no primeiro álbum do Scars, como ‘Universe’, ‘Stoner Hate’, ‘Babylon’, que poderiam muito bem ter sido músicas do System of a Down, se o System estivesse realmente fazendo álbuns na época, e o mesmo para músicas como ‘Lives’, ‘Guns Are Loaded’ e ‘Angry Guru’ que poderiam muito bem ter sido músicas do System of a Down.

Você tocou todos os instrumentos no Dictator como fez no primeiro álbum. Por que você não quis contar com outros músicos?

Foi apenas mais fácil para mim na época. Anos atrás eu tive alguns acontecimentos pessoais na minha vida e foi um período estressante para mim. Eu meio que fui para o estúdio como um refúgio e foi quase como uma terapia. Eu ia lá por uma ou duas semanas, me afastava do meu mundo real, me trancava no estúdio e gravava.

O álbum meio que evoluiu a partir disso?

Foi algo de última hora, eu realmente não juntei uma banda e ensinei todas as músicas para todos. Foi mais fácil para mim fazer assim. Eu sabia os arranjos, o direcionamento das músicas e como seria a bateria. Quando eu escrevo uma música, eu geralmente sei como os vocais vão soar e como vou fazer os teclados.

Essa é a mesma mentalidade que você levou para o System?

Sim. Eu costumo levar músicas preparadas para o System ou Scars, prontas e com os arranjos praticamente lá. Eu costumo ter uma noção do que todo mundo vai tocar. Eu meio que sei o que a bateria vai fazer e, no caso do System, obviamente, o John que toca a bateria. Eu quero ouvir o John fazendo algo diferente do que eu tinha em mente, mas geralmente ele vai tocar o que eu tinha imaginado. Não vai estar longe do que eu já tinha pensado para a música.

Você se tornou um compositor melhor nos últimos 20 anos desde o primeiro álbum?

Eu estou sempre tentando crescer e encontrar algo que não fiz antes dentro do meu estilo. Minha visão é que você está procurando por algo, mas não sabe o que está procurando até encontrar. Essa é a minha visão para escrever e arte em geral, constantemente buscando inspiração. Eu ouço muitos tipos diferentes de música.

Por falar em inspiração, os Beatles e John Lennon, em particular, foram grandes influências para você, junto com os Kinks e The Who.

Eu acho que Lennon influenciou todo mundo. Eu não gosto necessariamente do que esses caras fizeram em termos de som, mas eu gosto da forma como eles viviam e tentava me inspirar com a mentalidade deles no momento em que eles escreviam algo. Ao ouvir tantos tipos diferentes de música, certos estilos tendem a aflorar em mim. Como as coisas clássicas que você acabou de mencionar ou às vezes black metal ou country music. Eu escrevi uma música chamada ‘3005’ que tem um estilo southern rock. Existe uma música no primeiro álbum do Scars, chamada ‘Funny’, que tem uma linha de melodias e harmonias vocais dos Beatles e Kinks, mas ao mesmo tempo há música industrial acontecendo ao fundo.

O que o motivou desde cedo a pegar a guitarra e seguir uma carreira?

Se você me conhecesse quando eu tinha cinco ou seis anos, eu teria dito que era isso que eu queria fazer. Eu comecei a colecionar discos aos quatro anos de idade. A música me escolheu, eu não escolhi a música. Meus pais eram artistas, então sempre existia conversas sobre arte na casa. Quando eu era bem jovem, pensava na inocência: “Uau, eu quero ser como o Kiss e o Ozzy.” Todo o cenário do heavy metal estava acontecendo nos anos 80, quando eu era criança. Aqueles eram meus heróis.

Deve ter havido um momento onde tocar guitarra tornou-se muito mais sério.

No final da adolescência e especialmente na época em que o System estava se formando, eu realmente queria fazer algo que se destacasse. Eu queria deixar minha marca no rock. Eu não queria copiar todos os meus heróis. Todos os meus heróis se tornaram meus heróis porque todos fizeram algo diferente.

Essa foi uma grande parte do que te motivou?

Quando tocamos em Los Angeles no Sunset Strip, eu realmente gostei de como o Jane’s Addiction surgiu no meio de tanto glam rock, mas eles não eram necessariamente daquele estilo. Eles se encaixavam naquilo, mas não necessariamente copiavam. Eu queria que o System fosse dessa forma na cena de Los Angeles. É bom saber que o som do System ou Scars são próprios. Não sinto que você pode ver isso em qualquer outra banda ou qualquer outro compositor. Esse é apenas o meu estilo e o que eu faço. Sinto muito orgulho disso.

Quando você pegou a guitarra pela primeira vez, foi um desafio? Foi fácil?

O engraçado dessa minha história com a guitarra é que eu queria ser baterista. Nós morávamos em um apartamento muito pequeno em Hollywood quando eu era criança e eu não podia ter uma bateria grande naquele local. Quando finalmente nos mudamos para os subúrbios, meus pais compraram uma casa e eu tive meu próprio quarto, finalmente consegui minha bateria. Era meu aniversário de 10 anos quando fomos à loja de música, eu estava tão empolgado que ia pegar minha bateria, mas acho que meus pais tiveram uma conversa entre eles e disseram: “Não, ele não terá como desligar uma bateria. Vamos pegar uma guitarra e um amplificador para que ele possa desligar.” Foi assim que me tornei um guitarrista, haha.

Você se lembra de sua primeira guitarra?

Foi uma Arbor. Você se lembra disso?

Vagamente.

Era um modelo mais barato, uma guitarra Arbor preta. Eu não sei se essa empresa ainda existe [sim, ainda existe].

Eu acho que você comprou a primeira e a última.

[Risos] Não era como uma guitarra qualquer. Foi apenas algo que meus pais me compraram para aprender. Então eu aprendi de ouvido e ouvindo todos os meus álbuns favoritos. Eu aprendi a tocar power chords nela.

Quem eram alguns desses caras que você ouvia?

Eu lembro que ‘Iron Man’ foi um dos primeiros riffs de guitarra que aprendi. Quando eu tinha 13 ou 14 anos, Slayer e Metallica apareceram na minha vida e eu aprendi a tocar todas as suas músicas. Particularmente, sempre quis aprender a estrutura da música e, quando a parte solo chegava, eu apenas fazia o meu próprio solo. Eu nunca tentei copiar os solos.

Por quê?

Eu sempre senti que o solo era uma coisa pessoal e cada guitarrista o expressa de uma maneira diferente. Quando eu aprendi ‘Crazy Train’, eu tocava todos os ritmos, a estrutura e os riffs e quando as partes de solo chegavam, eu fazia meu próprio solo. Eu não copiava o que o Randy Rhoads fazia. Eu estava mais interessado na sensação e na música do que na guitarra. Para mim, os vocais e a bateria são tão importantes quanto a guitarra.

Foi importante para você escrever suas próprias músicas?

Aos 13 ou 14 anos, com um ano e meio tocando guitarra, comecei a escrever minhas próprias músicas. Eu escrevi muitas canções e as tocava para a família e observava a reação de todos. Pude sentir que estava recebendo uma certa reação das pessoas e foi quando percebi que essa era a minha força. Eu estava fazendo algo que nem todo mundo poderia fazer com a música, que era fazer com que as pessoas sentissem a emoção através das minhas letras e minhas canções.

Essa reação visceral às suas música deve ter se sido incrível.

Quando fiquei mais velho, em vez de me concentrar em ser um guitarrista tecnicamente bom, usei a guitarra como uma ferramenta para escrever músicas.

Por fim, aqui estão algumas perguntas dos leitores: Qual instrumento você não toca, mas gostaria de aprender?

Talvez um saxofone. Essa é uma pergunta difícil.

Você pode salvar uma guitarra, um amplificador e um pedal de um incêndio para usar em todos os shows que você fizer. O que você salvaria?

Eu provavelmente salvaria minha 1962 Gibson SG e meu JMC Marshall de 100 watts. Eu gravei o Mezmerize, Hypnotize, o primeiro álbum do Scars e o Dictator nele, então acho que provavelmente iria salvar esse amplificador. E talvez meu MXR Phase 90. Antes de qualquer coisa, eu sou um guitarrista armênio. Então eu sinto que qualquer guitarrista armênio que se preze usa um phaser. Se você ouvir música armênia, irá perceber isto. Todos os guitarristas armênios que eu cresci vendo em casamentos e lugares que frequentei eram fieis ao phaser. Então o phaser para mim tem que estar lá, hahaha.

Se você pudesse ter uma aula de guitarra com qualquer guitarrista, vivo ou morto, com quem seria?

A primeira pessoa que vem à mente é o Keith Moon. Eu sei que ele não é guitarrista.

Que ótima resposta. Eu tive a chance de entrevistar Keith Moon tempos atrás.

Jura?

Sim, foi inacreditável. Ele estava alugando uma casa em Coldwater Canyon ou Benedict Canyon, não me lembro. Eu estava batendo na porta e um Porsche veio roncando da garagem e acabou estacionando no gramado. Um cara saiu do carro com uma bebida na mão, e era o Keith Moon.

Bebendo enquanto estava dirigindo?

Bebendo enquanto estava dirigindo. Ele dirigiu tão rápido naquela garagem que eu pensei que ele fosse atravessar o portão.

Uau, cara, muito legal você ter conhecido e entrevistado ele. Ele é um dos meus grandes heróis. Suas linhas de bateria estabeleceram um certo padrão para o punk-rock e todos os estilos de rock. Ele foi o primeiro em seu estilo. Com Keith Moon, tudo parecia estar prestes a desmoronar mas, de alguma forma, tudo estava sob controle.

Quais são seus planos para o futuro?

Estou me preparando para o lançamento do álbum do Scars. É difícil para mim, uma pessoa que está sempre escrevendo músicas, não lançar nenhuma delas. É realmente incrível lançar um álbum. Eu esperei tanto tempo para ver o que estava acontecendo com o System que finalmente me sinto bem fazendo o meu próprio trabalho. Na verdade, eu tenho um monte de músicas que escrevi e planejo ir ao estúdio no final deste ano ou no ano que vem para gravar outro álbum do Scars. Na minha opinião, a arte e a escrita estão sempre presentes, seja lançando algo ou não. É algo que faço mesmo se ninguém souber. Se eu não fizer isso, vou perder a cabeça.

E a inevitável pergunta sobre o futuro do System of a Down?

Iremos tocar ao vivo. Temos cinco shows agendados em outubro. Eu estarei tocando em um festival na Cidade do México. Na primeira noite estarei tocando com o System e na segunda noite eu estarei executando um repertório com o Scars. São projetos simultâneos, mas a partir de agora, quando se trata de composições, é com o Scars. Com o System, nós tocamos as coisas antigas, os cinco álbuns, mas não estamos na mesma sintonia de uma banda quando se trata de seguir em frente para produzir um álbum.

Isso parece ser um pouco frustrante.

Tranquilo, mas a única coisa frustrante para mim é que esperei muito para lançar essas músicas, no aguardo para ver o que acontecia por lá. Não existe nenhum álbum novo do System planejado. Algumas bandas gravam álbuns por 20, 30 ou 40 anos, mas as pessoas mudam e optam por seguir direções diferentes. Eu não posso odiar ninguém por isso. Alguns membros da minha banda têm filhos e são casados, eu não tenho filhos e não sou casado. As pessoas mudam e os interesses mudam, então é isso.

Eu acho que é dessa forma que você tem que olhar para tudo isso.

Lamento ouvir isso, mas, ao mesmo tempo, costumo dizer às pessoas para não necessariamente ouvirem músicas com uma marca anexada a ela. As mesmas músicas que eu provavelmente levaria para o System, estou levando para o Scars. Então, se você se preocupa com as músicas, os novos materiais do Scars não ficarão muito longe em relação ao que seria um novo material do System.

Obrigado e toque todas as boas notas.

Obrigado. Irei tentar.

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