Do início ao hiato: Shavo Odadjian fala sobre o System Of A Down e seus projetos atuais

Shavo Odadjian concedeu uma nova entrevista à revista “Kerrang!” e falou sobre temas como o System Of A Down, vida pessoal e sobre o seu mais novo projeto, o North Kingsley.
A banda é composta pelo vocalista e compositor Ray Hawthorne, Odadjian, que intercala entre a guitarra e o baixo, e Saro Paparian no controle dos samples.
Na última semana o trio lançou o primeiro volume de um EP que contém três faixas, juntamente com um videoclipe do single ‘Die For The Pic’.
Leia a entrevista com o baixista do SOAD!
O System Of A Down ainda se chamava Soil quando você se juntou a eles, mas sabemos que você realmente administrou a banda por um tempo antes disso.
— Sim, é uma história muito longa, mas basicamente começou comigo sendo apresentado ao Daron, que eu conhecia vagamente porque ele tinha frequentado a mesma escola que eu, a Alex Pilibos High School. Na época, eu estava em uma banda chamada Roswell, e quando não estávamos ensaiando eu sempre corria para encontrar com os caras do Soil e às vezes pegava o baixo e tocava com eles quando o baixista deles deixava o quarto onde ensaiavam. Em certo momento eles me pediram para administrar, e eu comecei a gerenciar shows para eles. Lembro-me do Zack de la Rocha do Rage Against The Machine que costumava dar umas festas em casa, e ele levava algumas bandas para tocar. Me lembro de assistir a Stanford Prison Experiment tocando lá em uma noite e depois questionei Tom Morello se ele achava que talvez o Soil pudesse tocar lá um dia. Depois de tipo, uns dois ensaios que eles fizeram para tocar, aquela banda meio que se desfez. O baixista era um amigo meu, ele me disse que havia saído e que eles queriam que eu entrasse. Inicialmente, não soube o que falar, senti que seria algo como se eu tentasse ficar com a namorada dele, mas ele me deu as bênçãos, literalmente. Então, alguns dias se passaram e eu recebi um telefonema de Daron com ele me convidando para ir à casa de Serj, e foi aí que tudo começou.
Foi gratificante tocar com pessoas tão sérias quanto você?
— Definitivamente. Foi bom desde o início, parecia determinado. Daron e eu saíamos, pegávamos um pouco de maconha e voltávamos ao estúdio para falar sobre como a banda seria promissora.
Saltando para 1999, o álbum de estreia do SOAD foi lançado, e você estava em turnê na Europa pela primeira vez com o Slayer e Sepultura. Deve ter sido uma estreia e tanto para você na estrada.
— Surpreendente! Essa foi, na verdade, nossa terceira turnê: a primeira foi com o Slayer e Clutch, pela América, e então fizemos o Ozzfest 1998, palco secundário, foi quando o Slayer chegou e nos disse, ‘Ei, nós adoramos vocês, querem ir para a Europa com a gente?‘ E nós pensamos: ‘Aí sim, porra!’. Isso fez com que nossas turnês estourassem adequadamente! Estávamos maquiados, tocando músicas como Sugar, antes de duas das bandas mais pesadas do mundo, e fomos muito vaiados [risos]. Isso não nos incomodou, pensávamos: ‘Foda-se! Vocês irão nos amar um dia!’. Essa mentalidade nos fazia prosseguir. O Slayer estava em nossas costas, no palco. Quando os caras viam o Tom Araya parado do lado do palco nos observando, isso meio que nos rendia algum respeito.
Obviamente as coisas estavam indo bem para a banda, mas quando o Toxicity estreou como número um na América, vocês definitivamente estouraram. Quando você percebeu que o System estava se tornando um grande negócio?
— Na verdade eu sei a data exata, porque era início de setembro de 2001, Dia do Trabalho, e o álbum estava sendo lançado no dia seguinte, então decidimos fazer um show gratuito em Hollywood. Esperávamos atrair cerca de 4.000 ou 5.000 pessoas. Tínhamos segurança para lidar com esses números, mas, 15.000 pessoas apareceram e tudo enlouqueceu. O Corpo de Bombeiros nos chamou de lado e disse: ‘Olha, não podemos deixar esse show acontecer, tem gente demais lá fora’. Lembro-me de ter dito: ‘Cara, pelo menos vamos lá explicar o que está acontecendo, porque nós não podemos simplesmente não tocar sem nenhuma satisfação, eles vão ficar mais loucos’. Mas eles não nos deixaram fazer isso, e o próximo passo você imagina, houve um tumulto geral: a porra ficou louca! As pessoas destruíram nossos equipamentos e brigaram com nossa equipe, fomos levados para um hotel. Eu estava sentado em meu quarto com meus amigos e, em duas horas, todas os canais de notícias de Los Angeles estavam falando sobre o motim do System Of A Down. Não poderíamos ter pago por esse tipo de marketing! E então, uma semana depois, era 11 de setembro, e nosso álbum foi banido porque tínhamos músicas como ‘Chop Suey!’, falando sobre “suicídio justo”, então Toxicity se tornou o álbum número um do país. Eu descobri no próprio 11 de setembro. Lembro-me da minha mãe me telefonando e me dizendo para ligar a TV e, assim que liguei, uma das Torres Gêmeas desabou ao vivo. Eu não sabia o que estava acontecendo, se era real ou não. Enquanto estava vendo horrorizado o telefone tocou, era o meu empresário, e ele disse: ‘Parabéns, você é o número um da Billboard’, ao mesmo tempo, minha mãe estava dizendo que o mundo iria acabar. Louco. Eu só tenho arrepios ao falar sobre isso.

Nos cinco anos seguintes, o System se tornou uma das maiores bandas do mundo. Você se sentiu como uma estrela do rock ou apenas como um músico profissional?
— Meio a meio. Definitivamente houve um tempo em que eu estava bebendo, festejando, fazendo coisas malucas e vivendo aquele estilo de vida, me comportando como uma estrela do rock. Eu era jovem, meus amigos estavam fazendo as mesmas merdas e eu não me arrependo de nada, eu me diverti muito fazendo isso. Mas graças a Deus esse período não durou muito, e estou do outro lado disso. Mas mesmo quando me sentia uma estrela do rock, ainda andava com meus pais, meus velhos amigos e era humilde, era apenas o Shavo, não um ícone do rock.
Você deixou bem claro em entrevistas anteriores que colocar o System em um hiato não foi ideia sua. Mas você não perdeu muito tempo ressurgindo com um projeto paralelo, Achozen, com o RZA do Wu-Tang Clan.
— O momento do nosso hiato parecia bizarro para mim, eu não conseguia acreditar que estava acontecendo em um momento em que tínhamos acabado de ganhar um GRAMMY e estávamos prestes a passar para o próximo nível. Parecia que paramos no momento exato que não deveríamos. Mas foi o que foi, e obviamente eu não sabia que esse intervalo significaria que não tocaríamos juntos por anos. Mas, de qualquer maneira, o System tinha feito uma música chamada ‘Shame’ com o Wu-Tang Clan. O RZA e eu apenas tivemos uma ideia e começamos a nos encontrar o tempo todo, em seu estúdio ou no meu estúdio. Ele queria aprender a tocar guitarra e eu queria fazer uns beats e aprender a produzir, e ele disse que me ensinaria o que soubesse se eu desse a ele algumas aulas de guitarra. Pensei: ‘Dane-se, cara, faço o que você precisar!’, e foi aí que o projeto começou. Envolvemos alguns amigos e acabamos lançando um álbum embutido a um alto-falante portátil. Esse foi nosso único lançamento oficial e poucas pessoas ouviram, mas foi um bom momento e acho que fizemos boas músicas. RZA e eu somos amigos desde então, e conversamos sobre fazer mais, mas agora eu tenho essas músicas do North Kingsley para focar.
North Kingsley se reuniu da mesma maneira discreta e espontânea?
— Bastante. Em certo momento, me prescreveram comprimidos para ansiedade e, basicamente, os comprimidos começaram a causar problemas para mim. Tive assistência para isso e me livrei deles, mas não foi um bom momento para mim: meu peso explodiu e eu cheguei a 95 quilos, onde normalmente tenho 74. Levei talvez seis, sete meses para chegar ao mesmo peso novamente e voltar ao normal. De qualquer forma, eu pensava sobre produzir algumas músicas novas e, quando resolvi minha saúde, pareceu um bom momento para finalmente fazer isso. Conheci Saro, que é muito legal, o Ray apareceu, e as músicas que soavam eram ótimas. As letras de Ray são incríveis – é como ouvir as notícias, as notícias reais – e sinto que é a música que precisa ser ouvida. Eu meio que não queria chamar isso de banda, porque o System é minha banda, nossa banda, esse é meu DNA, e é algo de que tenho muito orgulho e zelo. Mas essas músicas que estamos fazendo com North Kingsley são boas demais para não estarem por aqui. Estou animado para que as pessoas ouçam.
Você mencionou no início desta conversa que gostaria que o System tivesse por volta de 10 álbuns, mas obviamente a banda é uma democracia e você não pode forçá-la, ou desrespeitar os desejos de seus companheiros. Isso deve ser frustrante, portanto, estar novamente no controle total, com neste projeto, deve ser libertador.
— Libertador é a palavra exata. Eu amo os caras do System, nós somos irmãos, para sempre. Mas, na verdade, o System não é uma democracia, é uma banda em que cada decisão que tomamos tem que ser unânime, todos os quatro concordando: é assim que a montamos no início e é por isso que estamos nessa bagunça [risos]. Isso é uma piada, apenas uma piada. Mas sim, é assim que o System funciona, e agora estou tocando com dois caras que respeitam minhas ideias e eles têm ideias próprias que são brilhantes, então é uma combinação espetacular. Eu amo que agora tenho esse caminho para fazer músicas novamente. Já se passaram 15 anos desde que lancei uma faixa de maneira adequada, e isso é empolgante novamente, é isso que um músico deve fazer.
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