Serj Tankian fala sobre o show do System of a Down na Armênia e critica Obama
Serj Tankian concedeu uma entrevista para a Time Magazine, uma revista com notícias semanais, publicada nos Estados Unidos. Serj falou sobre o genocídio armênio, sobre sua família e contou detalhes sobre o show histórico do System of a Down na Armênia. Confira a entrevista:
TIME Ideas.
Serj Tankian, vocalista do System of a Down, e todos os quatro membros da banda que são de ascendência armênia, apresentaram as suas ideias sobre o reconhecimento do genocídio armênio e suas razões por trás da turnê ‘Wake Up The Souls.’
A performance na Armênia no centésimo aniversário do Genocídio Armênio foi realmente elétrica. Foi emocionante. Estávamos todos um pouco nervosos antes do show, porque o System of a Down nunca havia tocado na Armênia, que é a nossa pátria ancestral. Estamos fazendo a nossa ‘Wake Up The Souls Tour’ tentando atrair a atenção ao reconhecimento do genocídio e tentando trazer justiça à causa. E assim foi um grande momento. Foi definitivamente um dos shows mais memoráveis que eu já fiz.
Todos os meus quatro avós foram sobreviventes do genocídio. Meu avô materno acabou em um orfanato americano na Grécia. Ele havia perdido a visão em um ponto por conta da fome, foi separado de sua família, e viu seu pai e irmão sendo mortos. Minha avó materna foi salva por um prefeito turco. Eu não sei o nome dele, mas esses são os Schindlers [referência à Oskar Schindler, industrial alemão, que salvou milhares de judeus durante o Holocausto] do Império Otomano, que devem ser saudados como salvadores. Meus avós do outro lado foram salvos porque estavam trabalhando na ferrovia alemã que ligava Bagdá até a Turquia.
Celebrar o aniversário da morte de tantos armênios, gregos e assírios não é apenas uma lembrança ao genocídio há 100 anos. Isso é o que as pessoas precisam entender: Não é um problema antigo. É um problema moderno que ainda parece persistir, porque estão usando o genocídio como capital político na nossa geopolítica e não estão prestando muita atenção à perda humanitária e aos danos que estão fazendo com o próximo. Hoje ainda não existe um mecanismo eficaz para a prevenção do genocídio em todo o mundo, independentemente da ‘Convenção do Genocídio’ da ONU e várias organizações que lidam com isso.
Um opressor pode aprender com as atrocidades passadas e agir com impunidade, a menos que seja impedido pela comunidade internacional. (Adolf Hitler dizia: “Quem, afinal, fala hoje do extermínio dos armênios?”. É um excelente exemplo de como ele foi influenciado pelo primeiro genocídio do século 20). Isso pode acontecer porque o genocídio armênio nunca foi formalmente reconhecido, e os seus autores nunca foram realmente levados à justiça.
Você tem o governo da Turquia, exercendo seu poder e gastando milhões para tentar negar a verdade em sua história. E você tem países como Estados Unidos, se rendendo a esse poder e não usando a palavra genocídio. Quando o presidente Barack Obama estava concorrendo à presidência, ele prometeu reconhecer o genocídio. É hipocrisia não usar esse termo, agora que ele se tornou presidente. É realmente ofensivo à memória das vítimas e para a própria história dos Estados Unidos.
Quinta-feira antes de eu chegar no palco, estava pensando sobre meus avós, como esta performance seria em homenagem a sobrevivência deles. No início do show nosso guitarrista Daron Malakian disse: “Isto não é apenas um show de rock ‘n’ roll. Aos nossos assassinos, isto é uma vingança!”. Pensei como foi comovente. Nós ainda estamos aqui. Ainda estamos vivos.